segunda-feira, 4 de julho de 2011

o amor acaba;

O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silencio;acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar; de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel ou que ela esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas; na acidez da aurora tropical, depois de uma noite voltada á alegria póstuma, que não veio;o amor pode acabar; na compulsão  da simplicidade simplesmente; no sábado, depois de três goles mornos de gim á beira da piscina; no filho tantas vezes semeado, as vezes vingado por alguns dias, mas que não floresceu, abrindo parágrafos de ódio inexplicável entre o pólen e o gineceu de duas flores; e o amor acaba na poeira que vertem os crepúsculos, caindo imperceptível no beijo de ir e vir; em salas esmaltadas com sangue, suor e desespero; nos roteiros de tédio para o tédio;as vezes não acaba é simplesmente esquecido como um espelho de bolsa, que continua reverberando sem razão até que alguém, humilde, o carregue consigo;as vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido;mas pode acabar com doçura e esperança; uma palavra, muda ou articulada, e acaba o amor; na verdade ; o álcool; de manhã, de tarde, de noite; na floração excessiva da primavera; no abuso do verão ; na dissonância do outono; no conforto do inverno; em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba.
Paulo Mendes Campos.

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